Quem sou eu

Minha foto
Brazil
"Acho que finalmente me dei conta que o que você faz com a sua vida é somente metade da equação. A outra metade, a metade mais importante na verdade, é com quem está quando está fazendo isso."

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Preso, mas livre de carbono



Alto custo econômico e ambiental dos presídios torna construção de novas unidades e cuidado com os presos cada vez menos agressivos ao planeta

A FAVOR DO PLANETA - A rotina dos presos do Estado americano de Washington inclui o plantio de orgânicos

O custo de manter milhares de criminosos presos não é alto apenas para os cofres públicos, mas também para o ambiente. No Brasil, cada encarcerado custa em média R$ 1,2 mil por mês aos contribuintes. Embora o preço para o planeta ainda não tenha sido calculado, é de se imaginar que os gastos com eletricidade, água e alimentação, além da emissão de carbono, gerem um impacto ambiental tremendo. Segundo dados recentes do Departamento Penitenciário Nacional, a população carcerária do País é de 473.626 pessoas. Enquanto por aqui começam os primeiros movimentos para reduzir essa grande despesa econômica e ambiental, nos EUA e em outros países as prisões “verdes” são uma realidade.

O Estado americano de Washington deu um importante passo nesse sentido em 2002. O governador à época, Gary Locke, determinou que as prisões deveriam aumentar a economia de energia e água, limitar a produção de lixo, aumentar a reciclagem e, por fim, só construir novos presídios de acordo com práticas sustentáveis. Além disso, graças a um acordo com a faculdade estadual Evergreen, os presos de Washington têm cursos profissionalizantes para realizar empreendimentos sustentáveis, fazem compostagem de lixo e ainda colaboram em projetos científicos, como o de repovoação de áreas naturais com espécies ameaçadas.


TRABALHO VERDE
Os cortadores de grama do presídio Monroe, nos EUA, são manuais e não cospem CO2 na atmosfera terrestre

Outros países, como Noruega e Eslováquia, também possuem presídios que se aproximam desse modelo, mas nos EUA as práticas estão se tornando sistemáticas. Em 2005, por exemplo, a cidade de Butner, na Carolina do Norte, inaugurou o primeiro edifício com a certificação Leed, uma das mais importantes tratando-se de construções com baixo impacto ambiental. As autoridades garantem que todos os novos presídios federais serão certificados. Só no Estado de Washington já são mais de 30.

O Brasil apenas engatinha nesse processo. Em julho, a Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário de Mato Grosso do Sul firmou com o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural um convênio para a capacitação de presos do Centro Penal Agroindustrial da Gameleira.

O projeto, chamado Vida Nova (coordenado pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural - Senar/MS), vai proporcionar o cultivo de uma horta orgânica dentro do presídio, com mão de obra dos internos. De tudo que for produzido, 80% serão comercializados e a renda será revertida em remuneração dos cerca de 100 presos que trabalharão na horta.

Os americanos dizem que o objetivo não é apenas reduzir os custos, embora esse seja um fator de peso. “Não queremos apenas economizar dinheiro do contribuinte e recursos naturais, mas também ajudar os criminosos a reconstruir suas vidas – o que é bom para todos”, diz um comunicado oficial do departamento prisional de Washington. Se o objetivo é que não haja reincidência de atos criminosos, que se incluam entre esses os crimes ambientais.


  • Centro Penal Agroindustrial da Gameleira

O Centro Penal Agroindustrial da Gameleira foi inaugurado no dia 10 de maio de 2010 está localizado na Estrada da Gameleira, na saída para Sidrolândia. O novo semiaberto conta com mais de seis mil metros quadrados de área construída e está localizado numa área de 50 hectares.

A estrutura pode abrigar mil reeducandos e atender os internos da Colônia Penal de Campo Grande, do semiaberto urbano da Capital e os detentos que estavam temporariamente em Dois Irmãos do Buriti.

Foram construídas 120 celas com capacidade para atender cerca de mil presos. Do total de celas, 40 são individuais. Nas celas coletivas, que podem abrigar pelo menos 12 internos, foram construídos treliches com banheiros.

Em uma área de aproximadamente 50 hectares do Centro Penal Agroindustrial da Gameleira, na Capital, o solo já oferece o fruto do trabalho de presos que cumprem pena na unidade. Dentro do centro penal os internos trabalham em diversas culturas de alimentos que entram no cardápio diário das refeições servidas para os reeducandos.


A produção também é destinada ao comércio e ainda doadas a instituições assistenciais. Para conhecer a atividade que é um diferencial no centro penal, o secretário de Estado de Justiça e Segurança Pública, Wantuir Jacini, visitou a unidade e percorreu as plantações zeladas pelos internos.

Sem dúvida é um diferencial que se encontra aqui no Centro Penal Agroindustrial da Gameleira. E é uma atividade positiva porque além de eles aprenderem uma nova profissão, um conhecimento a mais que eles adquirem, há ainda a remição de pena”, observa o secretário.

O centro penal tem hoje plantações de cana-de-açúcar, amendoim, mandioca, melancia, arroz e outra área já está sendo preparada para o cultivo de maracujá. Ainda dentro da unidade os presos trabalham em uma horta totalmente orgânica, onde não são utilizados produtos agrotóxicos.

Trabalham diariamente na horta 25 internos, em um espaço de 740 m². A horta orgânica instalada na Gameleira abriga culturas de rápido crescimento e sem a utilização de agrotóxicos, defensivos ou qualquer equipamento. O trabalho é totalmente manual.

A rotina dos presos que trabalham fora obedece ao cronograma de saída a partir das 4h da manhã e chegada até meia-noite. Dentro do horário, a liberação de duas horas para o trajeto. O campo de trabalho está dentro das 120 empresas conveniadas, entre iniciativas públicas e privadas, que diminuem a cada três dias trabalhados um dia de pena.

Para os que trabalham dentro do presídio, serviço é o que não falta. Além da cozinha, duas hortas e uma lavoura que somam mais de 60 hectares de área plantada com arroz, hortaliças, maracujá, melancia e pés de eucalipto.

Para Jacini, é com ações multidisciplinares, como as que são colocadas em prática através da Agência de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen), que se promove a resocialização dos presos que cumprem pena no Estado. “E o objetivo aqui da gameleira é exatamente este: fazer com que o interno trabalhe, e trabalhe no cultivo do seu próprio alimento”, diz.

Fazemos parcerias com as secretarias de Trabalho e Assistência Social, Educação e de Saúde para ter efetivamente esta ação multidisciplinar, utilizando toda a estrutura do governo do Estado como parceira”, ressalta. De acordo com o secretário, as ações multidisciplinares possibilitam ainda que os internos sejam capacitados não apenas na área agrícola, mas também com cursos em diversos segmentos, como auxiliar de pedreiro, pintor e eletricista.

Para cada três dias trabalhados os internos recebem uma remição de um dia na pena. Segundo o diretor-presidente da Agepen, coronel Deusdete Oliveira, atualmente 120 parceiros do sistema penitenciário oferecem apoio com relação a cursos de capacitação para os internos e contratação de mão-de-obra para unidades penais de todo o Estado.

Além de empregar a mão-de-obra dos internos na manutenção de toda a lavoura do Centro Penal Agroindustrial da Gameleira, os reeducandos também trabalham em outros setores da unidade, como na obra de ampliação da cozinha. Conforme o coronel Oliveira, após pronta, a cozinha industrial também vai empregar os internos para a confecção das refeições diárias. A empresa vencedora da licitação para administrar a cozinha terceirizada também deve continuar utilizando os produtos plantados e colhidos no solo do centro penal.

A unidade foi inaugurada há quase um ano, no dia 10 de maio do ano passado, e foi construída com recursos próprios do governo do Estado de R$ 7 milhões. No total, foram construídas 120 celas, entre individuais e coletivas e barracões para atividades de trabalho. Atualmente cerca de 500 presos cumprem pena no Centro Penal da Gameleira.


FONTE

http://www.istoe.com.br/reportagens/95132_PRESO+MAS+LIVRE+DE+CARBONO
por André Julião

http://www.jornaldiadia.com.br/index.php/msoboaoboao/53337-cultura-de-alimentos-contribui-com-ressocializacao-no-centro-penal-da-gameleira

Nenhum comentário:

Postar um comentário