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"Acho que finalmente me dei conta que o que você faz com a sua vida é somente metade da equação. A outra metade, a metade mais importante na verdade, é com quem está quando está fazendo isso."

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

A Zona de Conforto do Simples




Alguns anos na Secretaria de Segurança Pública me fizeram constatar que a pessoa que se qualifica como simples no exercício da função não é a natural, a modesta, a humilde, a despretensiosa como erroneamente se acredita ser mas é aquela que "põe tudo a perder".

Assim como admoesta o Livro de Provérbios, a pessoa simples é aquele indivíduo ingênuo e que confia nos outros sem qualquer malícia. Na verdade a pessoa é boa, mas a sua bondade suspende a sua sensatez, ou seja, interrompe ainda que temporariamente o seu bom senso, prudência, precaução, fazendo-a agir sem ponderação. E, quando deixa de refletir sobre as reais causas e as possíveis consequências de sua ação ou omissão, a pessoa simples pode errar e se deixar impressionar pela narrativa daquela pessoa insensata que não atribui problema algum em de vez em quando (ou sempre) agir contrário ao bom senso, as regras, as leis; e, até mesmo por sua simplicidade pode se deixar enganar pelas palavras de engodo da pessoa de má índole.

Ainda que não haja dolo em suas ações, é  indispensável que o simples seja questionado sobre sua intenção de sair ou não de sua zona de conforto. Assim como no Livro de Provérbios (1:22): "Até quando, ó simples, amareis a simplicidade? E vós escarnecedores, desejareis o escárnio? E vós insensatos, odiareis o conhecimento?"; e ainda (1:32): "Porque o erro dos simples os matará, e o desvario dos insensatos os destruirá"Ele morre pela falta de prudência. De modo que não restam dúvidas que o simples estava muito mal acompanhado ainda que, a tempo, ele não tenha se dado conta disso.

Em Provérbios lemos que: "O simples dá crédito a cada palavra, mas o prudente atenta para os seus passos" (14:15); e, que: "O simples de coração não é mal, é crédulo! Açoita o escarnecedor, e o simples tomará aviso; repreende ao entendido, e aprenderá conhecimento (19:25). Assim: "Quando o escarnecedor é castigado, o simples torna-se sábio; e o sábio quando é instruído recebe o conhecimento" (21:11). Portanto, o indivíduo simples não é mal, mas crédulo. Entretanto, por ser destituído de malícia, o simples acredita com facilidade em qualquer pessoa ou coisa.

Via de regra o simples só aprende quando "na pratica a teoria é outra". Isto é, o simples aprende quando toma conhecimento que a pessoa de má índole foi punida e que o imprudente foi advertido e repreendido. Por vezes, o perigo tem que estar bem próximo dele para que ele perceba. Em outras ele aprende somente ao vivenciar (ver, ouvir, sentir, experimentar) a perda, o dano.

No Livro "O código da Inteligência" (2008), de Augusto Cury, lemos que: "Uma pessoa inteligente aprende com os seus erros, uma pessoa sábia aprende com os erros dos outros". Assim não é difícil entender estes dois versículos semelhantes encontrados no Livro de Provérbios: "O prudente prevê o mal, e esconde-se; mas os simples passam e acabam pagando" (22:3); "O avisado vê o mal e esconde-se; mas os simples passam e sofrem a pena" (27:12)Embora, o simples aja sem dolo, a ausência de dolo não é garantia de impunidade assim, ele pode ser responsabilizado sem saber o porquê ou onde errou.

Ignorar o comportamento da pessoa simples faz com que ele permaneça em sua zona de conforto. O simples precisa é ser advertido de que seu comportamento é ingênuo e crédulo — não humilde e sociável, mas sem malícia a ponto de que as conseqüências de suas ações lhe sejam desfavoráveis, bem como, também seja a causa de "colocar tudo a perder".

Caso atue na administração da execução da pena o simples é aquele indivíduo que dispensa o cumprimento de procedimentos de segurança, sob o pretexto de descomplicar a sua rotina de trabalho; que ignora que antes de ativar ambientes de trabalho e de escolarização e profissionalização é necessário ter disponível recursos físicos, materiais e humanos; e, neste contexto, postei O Mito da Ressocialização.

Em nome de uma pretensa ressocialização atribui-se ao trabalho e estudo, realizado durante o cumprimento da pena, o poder de impedir que a pessoa volte a delinquir. Caso estes tivessem de fato tamanha influencia, vez que se sabe que não são todas as pessoas presas que trabalham ou estudam, tornar-se-ia indispensável questionar a validade legal dos critérios adotados para que algumas pessoas tenham essa oportunidade de  "voltar a socializar-se" e outras não.

Portanto, é a negação desta realidade que faz a expectativa quanto a aludida ressocialização, pelo trabalho e estudo, atender tão somente o anseio do insensato em atrair visibilidade; e, consequentemente, de "ficar bem na foto" ao receber o seu "cavalo de troia". Uma vez recebido, nunca se sabe ao certo a dimensão de tudo que é posto a perder: Ordem e disciplina. Bens patrimoniais. Vidas.

Seja como for, é o comodismo frente a ausência de precaução, de objetivo e de efetivo resultado que me preocupa. Inclusive, caso se entenda por indispensável, se por um lado não há servidores em número suficiente e de capacitação equivalente para atender a demanda das atividades concomitantes advindas das funções de ressocializar e custodiarPor conseguinte, via de regra, de outro lado dias trabalhados e dias de estudo, continuarão servindo para remir a pena, simplesmente.  

A questão é: Até quando, no ambiente de trabalho, a simplicidade será vista como "ausência de complicação"?  Será que só é possível aprender de um modo mais difícil? Sendo reféns ou a custo de uma ou mais vidas? Sinceramente, ser vítima da imprudência própria ou alheia não é a melhor opção. Talvez o mais importante é saber o que não fazer.

Aprenda com os mais experientes. Desde técnicas de sobrevivência até regras de comportamento. O segredo é ouvir e acreditar nas histórias, nas sugestões, nos procedimentos, colocando os ensinamentos em pratica. Talvez estas salvem a sua vida em momentos que você sequer imaginou vivenciar.

Vale ressaltar que as pessoas mentem, não importa se são desconhecidos, familiares, amigos ou colegas de trabalho. Lembre-se, apesar de não mentirem sempre, com certeza todos eles mentem. Pessoas de má índole sempre mentem. Sempre. E elas vão olhar direto em seus olhos, deixando transparecer seriedade e inocência, para que o simples e o insensato acredite nelas. Não acredite, porque elas estão mentindo.

Esteja atento para pessoas, situações e objetos que pareçam inofensivos. Use sempre o bom senso. Caso desconfie que algo está errado, simplesmente acredito que há. Vasculhe, inspecione, proteja-se, peça apoio, mantenha o foco até ter a certeza que está tudo bem. Confie em sua intuição. Realmente, não existem presos “tranquilos” ou “disciplinados”.

As unidades prisionais estão repletas de pessoas que incorreram nos mais diversos crimes, primários ou reincidentes, quer seja processado ou condenado, na verdade não importa, nenhum deles é “disciplinado” ou “tranquilo”. Caso tenha alguma dúvida, tente se colocar em lugar de suas vítimas. Não seja ingênuo, saia de sua zona de conforto. Afinal vigilância, segurança e disciplina não combinam mesmo com simplicidade.

"Estas coisas tens feito e eu me calei;
pensava que era tal como tu, mas eu te arguirei,
e as porei por ordem diate dos teus olhos"

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