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"Acho que finalmente me dei conta que o que você faz com a sua vida é somente metade da equação. A outra metade, a metade mais importante na verdade, é com quem está quando está fazendo isso."

sábado, 30 de março de 2019

Eis a Questão: Ser ou Não Ser Meia Boca


“Seja excelente em tudo que você faz, não só aqui na empresa, mas também em casa e na sociedade, porque o mundo dá voltas e existe sim uma “lei de ação e reação”.

Esta frase integra o vídeo abaixo e aborda de modo claro e objetivo as consequências prejudiciais em ser, estar e permanecer: "meia boca".


"Ser, estar e permanecer, eis a questão"

A dúvida: Ser ou não ser, perguntava-se Hamlet, de Shakespeare. A certeza: Não sou, estou, concluíram os políticos brasileiros. No princípio era o verbo ser. O estar no mundo veio depois.

Meu cunhado Maia é um filósofo. Talvez devesse dizer, seguindo uma forma em alta, Maia está filósofo. Pois muito bem, no último domingo – na verdade penúltimo, uma vez que temos mais um antes do 21 de dezembro – o cunhado me revelou o calendário dos Maias. Segundo o dito cujo, as pessoas, de modo geral, têm profunda dificuldade de interpretar os fatos, os dados, os dedos, as mãos, as cartas, ou qualquer outro jogo de azar.

Ao pé da letra, a Terra não vai para o buraco neste vinte e um vindouro. O que revela o calendário da família do Maia não passa de uma figura de linguagem, o povo ignaro é que transforma toda metáfora em uma hipérbole, em um exagero de expressão.

Tempestade em copo d’água. Alguma coisa está mesmo fora da ordem e vai, qualquer calendário paia registra isso, pros quintos dos infernos, mas não é ainda o fim da picada.

Alerto todavia os que pensam que tudo que diz o Maia é filosofia barata: o risco de vida ou de morte inerente a tal pensamento é algo que deve ser levado em conta por quem não quer pagar o pato. O mundo acaba dia 21, sim senhor, pode anotar. Mas não para todo o mundo. O mundo vai acabar somente para algumas pessoas. A primeira pessoa do presente do indicativo do verbo ser, por exemplo, essa está com os dias contados.

O Executivo enviou a mensagem, e o Legislativo aprovou por unanimidade. Se alguém ainda não captou o espírito de corpo, experimente então desrespeitar um político qualquer chamando-o de vereador, deputado, senador, ministro, presidente ou presidenta. Quem o fizer ouvirá a réplica na hora:

“Não sou vereador, estou vereador; não sou deputado, estou deputado; não sou senador, estou senador; não sou ministro, estou ministro; não sou presidente, estou presidenta”.

Os políticos provam com todas as letras que é possível sim filosofar em bom português. Filosofar é preciso, politicar não. Noutros tempos, se a questão era ser ou não ser, creditava-se ou debitava-se a pulga atrás da orelha a um determinado sujeito shakespeariano, e estávamos conversados. Mas o mundo não para, a linguagem não para. A língua é viva, assim como os políticos.

A questão semântica agora, no Parlamento ou em Palácio, é saber quem paga a conta no fim da história – não vamos falar aqui das continhas de fim de semana na Suíça, de fim de mês no meretrício, nem mesmo nas da mega da virada, afinal político não é pessoa de primeira. Ele é de terceira do singular, logo não vai se acabar no dia 21, segundo o calendário do Maia. Diálogos impertinentes

“A conta, senhor vereador, senhor deputado, senhor senador, senhor ministro, senhor e senhora presidente.”

“Alto lá! Não sou vereador, não sou deputado, não sou senador, não sou ministro, não sou presidente – apenas estou.”

É essa a filosofia evoluída, não resta a menor dúvida. Ser ou não ser já era. O ser morreu. Hoje o que resta é o não ser. Estar é o sinônimo filosófico do não ser, do não estar nem aí, ou aqui, ou ali, a nefasta negação da onipresença sagrada e sacramentada.

Era uma vez… Ali Babá e os Quarenta Ladrões. Era, não é mais. Não sou Ali, estou Ali, eis um álibi. Não são quarenta ladrões (quantos são?), eram, estavam, simplesmente, inocentemente.

“Vossa Excelência é um corrupto!” Essa é uma frase inadequada em se tratando de linguagem evoluída, culta. Em bom português o que temos hoje é “Vossa Excelência está corrupto!”

O calendário, ou código do Maia, o filósofo

Era uma vez um estudioso do idioma que ouvia da boca dos falantes mais cultos de uma aldeia um plural singular. O estudioso acompanhava o discurso de um político de palácio.

“Estamos muito feliz com o andar da carruagem”, “Estamos muito contente com a viagem do presidente”, “Estamos meio puto com essa maldita dor de dente”, gemia o imprudente.

As gerações mais antigas achavam que aquilo era o fim do mundo. Mas o estudioso disse não haver problema algum, aquilo tudo era só o “plural da modéstia”, uma … silepse de número. Pois sim, misturando alhos com bugalhos, o “estou isso”, em lugar do “sou isso”, também veste a túnica branca e incorruptível da falsa modéstia.

“Ora, pare com isso, eu lá sou um ministro, apenas estou ministro, no fundo sou igualzinho a você, ou seja, um nada, um servidor.”

“Tu és pó. A única coisa que tu és, e não estás ainda, é pó.”

“Somos pó, cheiramos pó, vendemos pó, fazemos a marcha do pó, votaremos no pó, voltaremos ao pó.”

“Data venia, Excelência!”

“Estou Excelência, eu sou tu amanhã. Estamos entendidos?”

“Mas de quem é a conta da bomba que está em minha mão?”

“Disseste bem, está. Não é conta, está conta. Esta bomba não é da nossa conta, não faça um réveillon em copo d’água. Estamos em festa.”

“Então, não temos quem pague a conta, não é, Excelência?”

“Eu não sou, eu estou. Quite.”

Moral da história: estar é um modo do ser não pagar o pato. Eis a questão. Ao menos essa é a leitura politicamente correta cunhada no calendário do Maia. E, bem assim a imprudência, negligência e imperícia que tem assolado a classe política travestidas do que parece ser um simples "jogo de palavras" para emprestar as responsabilidades inerentes ao cargo/função uma roupagem transitória e passageira também tem feito estragos permanentes em grande parte de outros setores de serviço público e privado. 


Referências Bibliográficas

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