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"Acho que finalmente me dei conta que o que você faz com a sua vida é somente metade da equação. A outra metade, a metade mais importante na verdade, é com quem está quando está fazendo isso."

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Doisélles


Raquell Guimarães tem um trabalho muito bonito: o slow fashion do tricô manual ganha valor na sua marca Doisélles. Uma roupa pode demorar 5 dias pra ser feita – luxo mesmo! Mas o melhor é a história por trás disso: a estilista usa sua produção como processo de reinserção social de presidiários, que ganham dinheiro e aprendem um novo ofício na Penitenciária Professor Ariosvaldo de Campos Pires, em Juiz de Fora. Pra esse desfile de estreia da marca, existem então essas duas necessidades: explicar essa trama por trás da roupa e também apresentar uma imagem de moda na passarela que seja condizente com a postura social dela.

Desde o início da marca, em 2009, Raquell sempre foi um caso à parte, avessa ao chamado “mundinho”. E aqui ela veste as modelos com coturnões, como se botasse o pé na porta pra conseguir impor o seu lado da história, e pede pro beauty artist Ricardo dos Anjos rabiscar a cara delas como se já avisasse: aqui é outra coisa. Na trilha, que mistura Criolo com textos falados pela própria Raquell, saem recados que respondem a comentários que a estilista já ouviu. A roupa não tem “a energia do crime que o detento cometeu”, por exemplo (e aliás, quem poderia falar algo desse naipe?!). Uma placa pendurada no local de trabalho, aliás, avisa: “O delito fica do lado de fora”. É muito intensa e preciosa a questão que a estilista faz de quebrar o preconceito contra a população carcerária no ambiente elitista de passarela – e dá pra perceber que Raquell não faz isso pela marca simplesmente, mas por eles, pela sua convicção neles.


As peças em si poderiam reafirmar a tendência agênero pela silhueta reta e a introdução da malharia em looks longilíneos (essas são novidades de presidiárias do Complexo Penitenciário Feminino Estevão Pinto), mas o styling de Mary Arantes vai pra outro lugar: a feminilidade é ressaltada com as tramas abertas, as franjas, o toque da lã; e ao mesmo tempo discute-se essa dualidade, esse “dois” que está no nome da marca e que também sugere que tudo tem dois lados. É uma apresentação com diversas camadas de significados, assim como a roupa em si.

E até no casting existe uma surpresa: a presença de Marcella Moreira, ganhadora do concurso Miss Prisional (que, sim, escolhe a presa mais bonita do Brasil e que é importante pra autoestima delas). Não se preocupe em reconhecê-la no meio das outras modelos do desfile, primeiro porque vai ser difícil (Marcella tem altura e porte semelhantes aos das colegas de passarela) e segundo porque nesse dia ela foi isso mesmo, mais uma modelo no meio das outras. Dá também pra encarar o fato como uma metáfora pra alteridade, pra empatia, pra conseguir se ver na pele do outro a fim de entendê-lo. Você consegue? (Jorge Wakabara).


"Sou uma tricoteira da Capitinga. Isso é o que sei fazer de melhor. O resto são prosalidades”, diz a designer juiz-forana Raquell Guimarães, que, mesmo depois de ter levado suas agulhas, pontos e nós para vários outros lugares do mundo, tem sua cidade natal como um “porto emocional”. “Não nasci no berço intelectual nem industrial de São Paulo, mas nasci no berço mineiro, barroco, na terra de Murilo Mendes e de tantas outras almas sensíveis, onde desde cedo nos ensinam a prestar atenção nos detalhes. Só quero viver a vida com serenidade e equilíbrio”, reflete. Pós-graduada em história da indumentária pelo Victoria and Albert Museum de Londres, a empresária, responsável pela grife Doisélles, comemora a aprovação na Lei Rouanet, do projeto “Flor de lótus”, desenvolvido há quatro anos na Penitenciária Ariosvaldo Campos Pires. Para junho, com patrocínio dos Correios, ela planeja uma exposição, que será lançada em Juiz de Fora, mas que pode circular por outras paragens. “O público poderá ver como a arte socializa recuperandos e será surpreendido pela qualidade e capacidade do trabalho desses ‘novos artistas'”, diz, referindo-se aos 18 detentos/artesãos que cumprem a sentença em regime fechado, tendo como recompensa a redução da pena em um dia a cada três dedicados ao tricô e ao crochê. “Se não fossem ‘meus meninos’, eu só seria uma estilista. Caí na moda porque tudo que vejo, leio, sinto, cheiro e toco acaba virando tricô e crochê. Tricô é o que me compõe. É a minha forma de expressão.”

Livro
“Escritos autobiográficos, automáticos e de reflexão pessoal”, de Fernando Pessoa

“É meu oráculo”

Escritor
Rubem Fonseca

“Acho que o maior gênio da nossa literatura é o nosso conterrâneo, a quem tenho a máxima honra de chamar de meu amigo, Rubem Fonseca”

Cineasta
Woody Allen

“É criativo com o nosso estúpido cotidiano. Tem um texto divertido e reflexivo. Faz rir e pensar. Humor e filosofia na medida certa”

Cantora
Maria Bethânia

“Ela canta as coisas que eu sinto”

Museu
A casa de Anne Frank, em Amsterdã”

Não é um museu de arte, mas atravessar a parede de livros que levava ao anexo foi uma grande emoção para mim. Li ‘O diário de Anne Frank’ aos 13 anos, na sétima série, e foi incrível ver tudo pessoalmente”

Filme
“Dogville”, de Lars von Trier

“Amo o ser humano, mas tenho uma certa preguiça da forma como a sociedade está arranjada. O egoísmo é o câncer da humanidade. ‘Dogville’ deixa isso claro e traz uma mensagem que, embora angustiante e pessimista, é arrebatadora e muito bem elaborada”

Um designer
John Galliano

“É muito fácil acertar quando se pratica o minimalismo, pois as chances de erro caem por razões óbvias. Difícil é o maximalismo não cair no cafona. E John Galliano nunca deixou isso acontecer. Por mais exagerado, teatral e rebuscado que seja, consegue ser sempre preciso e irretocável”

Vídeo na internet
“A história da Páscoa”, disponível no YouTube

“Assisti e compartilhei recentemente esse vídeo de uma encenação da “Paixão de Cristo”, cujos atores não tinham mais de 5 aninhos. Tenho certeza que se, Jesus tivesse encomendado, seria exatamente daquele jeito. Ele sorriu do céu”

http://www.tribunademinas.com.br/cultura/vale-a-pena-1.1252830

FONTE

http://www.doiselles.com.br/blog/

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